Encontro de mamulengos reúne artistas nacionais no interior de SP; conheça o teatro de bonecos típico do nordeste
23/06/2025
(Foto: Reprodução) 9º Encontro de Mamulengos em São Paulo traz artistas e artesãos de diversos estados brasileiros para Tatuí (SP). Interessados podem conferir as obras nesta segunda-feira (23). Teatro de bonecos mamulengo é típico do nordeste e reconhecido como patrimônio cultural desde 2015
Natália Siufi/Arquivo pessoal
O teatro de bonecos típico do nordeste, reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro em 2015, chamado de mamulengo, chega a Tatuí (SP) nesta segunda-feira (23), a partir das 14h, com a 9ª edição do Encontro de Mamulengo em São Paulo, na Praça da Matriz.
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O evento reúne artistas e artesãos, responsáveis por praticar, produzir e preservar essa manifestação cultural.
O encontro é promovido pelo Conservatório de Tatuí, e reafirma a valorização do teatro popular de bonecos como uma herança viva da cultura nordestina. Participam do evento mestres, pesquisadores e brincantes de diversos estados do Brasil, promovendo trocas e espetáculos sobre o patrimônio.
🎭 O que são mamulengos?
Os bonecos, feitos com madeira e tecidos coloridos de diversas estampas, são típicos do nordeste, e costumam ser usados em apresentações teatrais improvisadas que acontecem em espaços públicos.
Em 2015, o mamulengo foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo batizado como Teatro de Bonecos Popular do Nordeste.
9º Encontro de Mamulengos reúne artistas e artesãos brasileiros em Tatuí (SP) nesta segunda-feira (23)
Conservatório de Tatuí/Divulgação
O mamulengo é praticado por artistas solo ou trupes. Em grupo, costuma ser dirigido por um mestre, que atua como o "dono" da brincadeira. As apresentações costumam ser realizadas em tendas, destacando os bonecos e escondendo os brincantes (bonequeiros).
Entre os personagens, os espectadores podem encontrar os heróis populares, o negro pobre, o padre, o demônio, os enamorados ou a cobra grande. Os bonecos representam personagens em diversas posições sociais, religiosas, forças da natureza e relações afetivas.
❤️ Sensação ancestral
A artista Natália Siufi, de 36 anos, moradora de São Paulo (SP), começou a trabalhar com os bonecos há 15 anos, após produzir o primeiro encontro de mamulengo, no qual teve o seu primeiro contato com a representação teatral.
Ao g1, ela contou que lembra até hoje da sensação de ver os bonecos. "Era algo ancestral, colorido. Todos riam e falavam com os bonecos de madeira. Fiquei apaixonada e, desde então, venho organizando diferentes eventos."
O mamulengo, segundo Natália, traz representatividade para povos como indígenas, pretos e pessoas da zona rural, o que pode refletir também no cenário urbano. "O mamulengo é um teatro extremamente popular, porque é feito pelas pessoas que trabalham na terra, quilombolas e camponeses", explica.
Da sua trajetória com as apresentações teatrais, a artesã relembrou um momento no qual estava no metrô à noite e um homem veio até ela para assaltá-la, mas reconheceu Natália "dos bonecos" e, portanto, foi embora sem furtar nada.
Apresentação do teatro de mamulengos acontece nesta segunda-feira (23) em Tatuí (SP)
Conservatório de Tatuí/Divulgação
Esse acontecimento gerou nela uma sensação de cumplicidade: "Ele me viu como uma irmã, alguém que era do bando dele. Acho que o boneco tem esse poder de se conectar com as pessoas para além do que elas parecem ser."
"O encontro de mamulengo me fez perceber o que há de fato nas ruas do Centro. As pessoas que a gente invisibiliza e não vê. Nunca encontrei um teatro com a potência que o boneco popular tem de se comunicar com qualquer pessoa, do mais rico ao mais pobre. Ele é inclusivo e crítico ao mesmo tempo", comentou Natália.
Sobre a produção dos mamulengos, eles utilizam preferencialmente madeira de mulungu ou emburana, mas também são usadas madeiras leves.
Natália leva meses para fazer um boneco, mas ressaltou que outros mestres conseguem fazê-los em um dia. Ela produz apenas para brincar, mas compartilhou que uma peça pode custar de R$ 50 a R$ 1.500. O valor pode mudar dependendo da complexidade da articulação e de quem produz.
Para a artesã, o encontro é um alerta de força e resistência à destruição de seus espaços e retirada dos artistas de seus locais de apresentação. Ela sinaliza que eles seguirão brincando e se reinventam a cada desafio.
"Trazer para o Centro de São Paulo, que é povoado de nordestinos, o brinquedo de madeira de sítio e que os avós dessas pessoas assistiam em seus quintais é lembrar que a cidade também é para se habitar com colorido e com brinquedo. E que estamos vivos, com alegria, apesar das dificuldades."
🧶 Produção desde a infância
Encontro dos artistas é promovido pelo Conservatório de Tatuí, nesta segunda-feira (23), às 14h
Natália Siufi/Arquivo pessoal
A produtora cultural Cirleide do Nascimento Silva, de 35 anos, moradora de Glória do Goitá (PE), começou o trabalho de mamulengo aos sete anos, desde a confecção até a manipulação dos bonecos. Essa paixão teve início na companhia de sua família.
As suas referências foram seus pais, o mestre Zé Lopes, conhecido como patrono dos mamulengos de Pernambuco, e a mãe, a mestra bonequeira Neide Lopes. Ela conheceu seus pais trabalhando, acompanhando, tocando e aprendendo a esculpir. Atualmente, ela faz apresentações e produção do Grupo Mamulengando Alegria.
"O mamulengo é parte da minha vida, não apenas um trabalho, mas aquilo que me constrói como pessoa. Eu cresci rodeada de bonecos, e, na minha infância, acreditava que eles eram pessoas e meus irmãos. Meu sentimento é de amor e respeito por cada figura que ergo com orgulho na minha tolda", completou.
Para Cirleide, a cultura popular precisa ser valorizada e vivenciada. Na visão dela, os mestres dos mamulengos estão partindo sem receber reconhecimento de sua dedicação, e esses encontros ou festivais que acontecem em cidades do Brasil são uma oportunidade de celebrar os momentos que enriquecem a trajetória e a história dos mamulengos.
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*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku
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